17 de mar. de 2014

ESCREVER POEMAS X FALAR POEMAS

Em, 2008, durante evento sobre Direitos Humanos, realizado na Faculdade 2 de Julho, no bairro do Garcia, houve um workshop com Elisa Lucinda, do qual várias pessoas participaram e que resultou em um recital  no seu auditório com capacidade para 500 pessoas.  Antes da apresentação de Elisa Lucinda fez sua apresentação pessoal e nos convidou a apresentarmos os poemas trabalhados durante o workshop. Antes da apresentação, dei como lembrança aos participantes da oficina de poesia falada, um folder com a primeira versão de um poema que escrevi cujo título é DE HUMANOS. Tal poema é uma homenagem a Adélia Prado, autora de outro poema de título DIREITOS HUMANOS. Trata-se de um poema bem curto e expressivo sobre a sua escrita. Há grandes diferenças entre os atos de escrever e falar poesia. Sempre considerei que há formas e mais formas de falar poemas e que essa atividade se diferencia sobremaneira daquela de escrevê-los. São muitos os casos de grandes poetas que não falam seus versos e de pessoas que os valorizam incrivelmente com seus talentos expressivos. Nem todo ator, no entanto, como alguns possam equivocadamente supor, possui esses talentos. Há vídeos de atrizes e atores em que é possível comprovar isso. Alguns valorizam a palavra escrita por seus autores, enquanto outros retiram toda a riqueza delas por falta de compreensão sobre o significado dos versos que saem de suas bocas - pontuações equivocadas, desconhecimento de palavras existentes no poema,  incapacidade de transmissão das mensagens implícitas e explícitas neles, excesso no tom de voz e nos gestos, entonações não exigidas ou deslocadas, falta de fidedignidade às palavras originais de seus autores etc. Foi tentando me conscientizar do objetivo que me movia a falar poesia que escrevi aquele diálogo fictício com a maravilhosa mineira de Divinópolis. Abaixo transcrevo ambos os poemas:

Direitos Humanos
 Adélia Prado
                        Sei que Deus mora em mim
como sua melhor casa.
Sou sua paisagem,
sua retorta alquímica
e para sua alegria
seus dois olhos.
Mas esta letra é minha.

((Oráculos de Maio, p.73.)
Fonte: http://trycar.blogspot.com.br/2010/04/direitos-humanos-adelia-prado


                    
                                                      


  






DE HUMANOS
                                  Vera Coqueiro Passos


Na verdade, Adélia, a letra pode ser tua,
mas os sentimentos também moram em mim.
Não recebi teu dom de traduzi-los em verso,
bem sei. Apenas peço a Deus a alquimia
de fazer da minha voz, olhos e mãos,
dessa efêmera casa enfim,
instrumentos de uma precisa fotografia,
da mais preciosa revelação
aos que comungam conosco essa humanidade.